quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Victor Jara. O músico dos 40 anos de golpe de estado chileno.

(se todo dia fosse azul assim) Hoje é mais um daqueles dias que parece que nada parece legal de se escrever. Busca-se informações e, sim, elas existem, mas não as que me interessam.

Vou falar de quê? Da operação de retirada do apêndice do batera do Bon Jovi?
Mas ontem fez 40 anos do golpe de estado que derrubou o presidente eleito pela população chilena, Salvador Allende, e transformou o país numa ditadura militar liderada por Augusto Pinochet até 1990.

Espera aí. Não amiguinhos. Se quiser saber mais sobre essa história, a internet está cheia de fatos e fotos e acho que todo mundo que tenha um pouquinho de curiosidade deveria não olhar apenas para o 11 de setembro americano (não que esse fosse menor que os outros), mas olhar para os outros setembros, outras derrubadas de poder, outras histórias que podem ter algum significado com o Brasil, ou não. Mas aí fica com vocês.
Aqui o negócio principal é a música e nos momentos da grande crise chilena houve uma voz que foi calada de forma brutal, assim como a forma de como o golpe foi orquestrado. Esse nome era Víctor Jara.
Víctor em 73 já era uma figura nacional. Músico, diretor de teatro, professor universitário, ativista e membro do partido comunista chileno, tinha apoio de muitas pessoas e também ódio de outros por fazer parte do time de esquerda, dos subversivos comedores de criancinhas. Essa última foi o que acabou levando a um triste fim, a sua opção partidária, como se isso fosse o suficiente para torná-lo uma pessoa por demais perigosa.

Após fazer parte do conjunto folclórico Cuncumén e de ter a chance de conhecer a artista plástica e uma das maiores conhecedoras do cancioneiro chileno, a cantora Violeta Parra, decidiu levar mais a sério o negócio da música. 
Pois eis que em torno da metade dos anos 60 iniciou-se um movimento musical chamado "Nueva Canción Chilena", algo muito parecido com o movimento tropicalista e da MPB, mas com diferenças sonoras e de raízes musicais (no caso chileno, muito pelo esforço de Violeta Parra de manter e preservar as antigas canções, provérbios, receitas e tradições do país) e que também ocorreu em outros países, principalmente nas Américas do Sul e Central. O que podia aproximar uma das outras seria o cunho político e social, a história de um povo oprimido e lutador, de superação e apoio que havia nas canções sejam elas escritas de forma escancarada ou subentendida.

Junto com Víctor Jara, outros como Inti-Illimani, Congreso, Quilapaium e Richard Rojas fizeram parte desse movimento. 
Entre 1966 e 1973, foram lançados oito discos e 10 peças de teatro com Víctor na direção. Poderia ser mais se após o ataque no Palacio de La Moneda.
Detido junto com outros alunos e professores que estavam na na Universidade Técnica do Estado (hoje Universidade de Santiago) e levados para o Estádio Chile (não confundir com o Estádio Nacional de Chile, esse seria o destino dele e de outros se não fosse morto antes) um dia após o golpe, Víctor foi por quatro dias torturado por horas. Teve queimaduras de cigarro, simulação de fuzilamento, os ossos de suas mãos quebrados por coronhadas (para que ele nunca mais tocasse), espancado sem dó. 
A jornalista Dorrit Harazin lembrou que quatro anos antes, nesse mesmo Estádio (que mudaria de nome em 2004 para Estádio Víctor Jara), o cantor ganharia um prêmio no primeiro Festival da Nueva Canción Chilena com a música "Oração De Um Trabalhador". Destino triste.
Finalmente, em 16 de setembro, recebeu um tiro na cabeça, seguido de mais outras 44 balas. Encontrado próximo de um cemitério, foi reconhecido pela sua mulher que depois o enterrou numa cerimônia solitária.
A revista Rolling Stone do Chile no número 121 de abril de 2008 fez uma seleção dos 50 Melhores Discos Chilenos. Nele aparecem três discos de Víctor. O melhor colocado "Pongo En Tus Manos Abiertas", de 1969, se encontra como quinto melhor disco. 
Em 22 de dezembro de 2012, um juíz ordenou o processo de sete ex-oficiais pela morte do cantor. O corpo do cantor foi exumado e, enfim, enterrado novamente em cinco de dezembro mas com todas as honras pelo trabalho e serviços que fez para a cultura e história de seu país.

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