20 anos. Parece assustador me lembrar de quando ouvi esse disco pela primeira vez. Foi na escola que uma amiga me perguntou se já o tinha ouvido. "Não, e já achei um lixo", foi a estúpida resposta que dei, mostrando toda a minha habilidade em desprezar o que não conhecia. Tinha 15 anos e já me achava "o" conhecedor das coisas boas e ruins. Que cara otário que eu era. Acho que continuo sendo.
Mas passado a grita desse disco, reconheço que este é um dos grandes petardos da indústria musical.
Produzido por Butch Vig (baterista do Garbage e produtor de outros discos matadores do Nirvana, Smashing Pumpkins, House of Pain e Helmet) e uma inusitada capa assinada por Mike Kelley, o disco colocou o Sonic, depois de um EP e seis álbuns lançados desde 1982, em uma banda conhecida por muitos. Gostando ou não.
Uma coisa deve ser lembrada e justificada. Sonic Youth já tinha há um bom tempo o reconhecimento de milhares de pessoas, principalmente daquelas que acompanhavam a cena independente. Os dois discos lançados antes, "Daydream Nation" (1988) e "Goo" (1990) já eram clássicos e mostravam claramente que eles utilizavam as distorções não apenas como barulho e, sim, como melodia. Algo incomum nesses tempos de guitarras ou "sujas" ou cheios de técnicas de acordes subindo e descendo.
Uma das primeiras músicas a aparecer nas rádios, "100%" de cara já mostrava o poder das guitarras, do baixo de Kim Gordon e da força que a música tinha. O clipe, mostrando adolescentes de roupas quadriculadas, skates, namoros e desilusões - o auge grunge - talvez deixava as pessoas perplexas pela sua forma incomum de melodias. "Sugar Kane" entrou na rádio e tocou tanto que não dava para dizer que não conhecia seus músicos.
O disco tem 16 músicas monstras, fortes, assustadoras. Havia desde a bate estaca "Nic Fit" (cover da banda underground punk Untouchables, de Alec McKaye, irmão de Ian, vocalista do Minor Threat e Fugazi) e "Orange Rolls, Angel's Spit", as sombrias "Drunken Butterfly" e "JC", a voz sexy e violenta de Kim Gordon em "Shoot", "Créme Brûlèe" e "On the Strip", experimentações geniais de "Theresa's Sound-World", a belíssima "Wish Fulfillment" e "Chapel Hill" (a minha preferida, principalmente pelo claustrofóbico solo) e a dançante "Purr".
No livro "1001 Discos Para Ouvir Antes de Morrer, Ignacio Julià diz: "Assim como todos os seus trabalhos posteriores, Dirty documenta uma banda tão fiel à sua personalidade multifacetada quanto aos acontecimentos de sua época, misturando o pessoal e o social em camadas superpostas de som e raiva."
Definitivamente um ótimo disco numa época de lançamentos poderosos. Um ano clássico.
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