
Pior é que mesmo não fazendo muito tempo de leitura, muita coisa pode se perder no caminho cerebral. Cousas que adoraria lembrar, principalmente nesse livro do dia, o "Dona Sinhá e o Filho Padre", de Gilberto Freyre (Ed Ediouro, 258 págs).
A história - ou estória - já começa com essa confusão. Ele, Gilberto, se pega falando com uma sinhá que está preocupada com o conto que ele irá lançar achando que Freyre comenta sobre sua vida e de seu filho padre, que falecera jovem. Uma coincidência de ideias e acasos inesperados que se tornam um. Uma seminovela? Um conto? Uma ficção? Que catzo é isso?
Ah, a sinhá e seu filho padre. Filho esse que já nasceu mimado e envolto pelo amor da mãe devota e que quer ter de qualquer forma seu filho vestindo a bata, pregando, celebrando missas e casamentos. Garoto que desde pequeno foi delicadamente feito pela mãe para isso.
Gilberto faz a cousa mais bacana para um livro como esse. Não conta apenas a história. Ele a investiga, recolhe depoimentos, encontra chaves para mistérios do homem (o padre, a sinhá, parentes e pessoas próximas), de seu habitat, convívio, folclore e as estuda formando uma impressionante e bem acabada mistura entre o texto de estudo jornalístico, antropológico, filosófico, místico... um conto como chamam de "gilbertiano". Já leu? Leia então para entender a mágica.
Mas imagine um conto com todos aqueles detalhes de biografias e teses: linhas em itálico, comentários no rodapé e tudo numa história que seria apenas mais uma novela, mas é muito mais.
Sabia que estava nas minhas mãos uma bela história. Vai, nem tanto. Já lí o monstro "Casa Grande e Senzala" e não esperava muita cousa desse. Ufa, quem tem a mão literária e a cabeça curiosa pode oferecer um saber que não apenas conta algo como também ensina a investigar. Fantástico.
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