sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Primeira guitarra elétrica faz 75 anos

"Frying Pan" a primeira guitarra elétrica
Há 75 anos atrás, em 1937, o escritório de patentes dos EUA, entregou a concessão da patente #2,089.171 para George Beauchamp quase cinco anos após o lançamento que mudaria toda a indústria musical e que proporcionaria ao mundo um dos equipamentos mais respeitados do século passado: a guitarra elétrica. Na patente, o nome do objeto: Rickenbacker Frying Pan ou modelo A-22.
Tudo começou ainda na década de 20. Los Angeles era considerada a capital do entretenimento do mundo, por isso, artistas apareciam de todos os cantos para apresentações. Nessa onda apareceu um Beauchamp.
Tinham energia, luzes mas nada que poderia aumentar o alcance sonoro de seus violões, principalmente para uma multidão barulhenta. Dentre as invencionices para dar mais volume ao instrumento houve quem colocasse megafones conectados ao corpo do violão como amplificadores. Beauchamp gostou dessa ideia e pediu para que John Dopyera, seu vizinho que trabalhava como lutier de violinos, para inventar algo semelhante. 
A princípio John e seu irmão Rudy montaram uma corneta de vitrola na lateral do instrumento e apontada para o público e não deu certo. Um tempo depois fizeram uma nova experiência e colocaram em ressonador em formato de cone feito de alumínio ligado ao cavalete do violão e colocado dentro do corpo de metal. Beauchamp gostou e chamou o protótipo de "tri-cone". Sim, Beauchamp colocou mais dois cones para aumentar a ressonância. Seria esse a talvez "era pré-histórica", ou o "elo nem-tanto-perdido" das atuais guitarras elétricas.
Contente com o resultado obtido pelo tri-cone, Beauchamp ofereceu aos irmãos Dopyera a idea de montarem uma fábrica para montar os equipamentos em escala e vendê-las. Decidiu chamar seu genro milionário, Ted Kleinmeyer, e alguns amigos dele para investir na fábrica. Para chamar a atenção, chamou o Sol Ho'opi'i Trio - famoso grupo de músicas havaianas da época liderada por Salomon Ho'opi'i - para tocar e, no final, fez os músicos tocarem com a nova invenção. A história conta que Kleinmeyer ficou tão empolgado com a demonstração que na mesma noite deu a Beauchamp um cheque de de 12 mil dólares. O que deveria ser um baita montante nesses tempos.
Com o dinheiro, imediatamente, contratou os melhores artesãos que encontrou, chamou amigos, parentes e decidiu montar a fábrica perto de uma loja de ferramentas de moldagem de um cara chamado Adolph Rickenbacker. Um engenheiro de produção de mão cheia e conhecedor e com vasta experiência nas mais variadas técnicas de fabrico.
Mas vieram os problemas. George Beauchamp e John Dopyera tinham estilos diferentes. Os Dopyera não gostavam de como a empresa era capitaneada e falavam que Beauchamp perdia tempo inventando novas ideias. O dinheiro começou a esvair e as brigas pararam na corte. Dopyera fechou a empresa e montou com o mesmo grupo a Dobro Corporation, mantendo a National até que o dinheiro do genro de Beauchamp acabou de vez. Com isso, o controle ia de vez nas mãos dos Dopyera, fazendo com que George e outros fossem despedidos. Um baque para o músico que queria apenas ouvir seu instrumento mais alto.
Não deixou ser derrubado. Ainda com a ideia de fazer um violão elétrico na cabeça, entrou numa escola de eletrônica para conhecer a fundo essa sua intenção. 
Um dia fez um teste usando um fonógrafo elétrico Brunswick com uma guitarra de corda única e sentiu que estava no caminho certo. Para manter suas experiências dentro de casa, agora dava aulas de eletrônica a noite.
Conhecedor agora do princípio de que, sabendo-se que um metal movendo-se atrás de um campo magnético causava uma reação que podia ser alterada em corrente elétrica ao passar por uma bobina, coisa que geradores e fonógrafos já utilizavam na época. Faltava agora criar algo menor e que traduzisse as vibrações das cordas em corrente elétrica.
Depois de muitos erros e acertos, George construiu um captador com duas ferraduras magnéticas, onde as cordas passavam por baixo, concentrando os campos magnéticos em cada uma delas. Para criar corrente, George chegava a usar o motor da lavadora e das máquinas de costura de sua família.
O negócio parece ter dado certo e George chamou seu ex-superintendente da National, Harry Watson para construir em madeira o braço e o corpo. Horas depois de raspar, cortar e moldar eis que a primeira guitarra elétrica toma forma e logo batizada de "Frying Pan" ou, na nossa língua, de "Frigideira" pelos motivos óbvios.
Doido para lançar o instrumento, George chamou aquele cara que tinha uma loja perto de sua antiga fábrica, Adolph Rickenbacker. Agora tinham tudo, de know how, ideias e um capital para formarem, juntos, o Ro-Pat-In. Essa companhia mudaria de nome para Electro String até que, definitivamente se tornaria Rickenbacker por ser um nome famoso (graças ao tio de Adolph, Eddie Rickenbacker, um famoso ás da 1ª Guerra Mundial) e por ser muito mais fácil do que pronunciar Beauchamp (Lê-se Beechum).
Acha que acabou? A época agora era 1931, tempos da Grande Depressão e, se muitos estavam procurando empregos medíocres, imagina então gastar dinheiro com guitarras. Havia ainda a resistência de alguns músicos em aceitar a novidade. Eles não tinham experiências com o equipamento e só o mais perspicaz músico veria todo o seu potencial.
O escritório de patentes nem sabia se a "Frigideira" era um dispositivo elétrico ou um instrumento musical. Pra piorar, nenhuma categoria poderia incluir ambas em sua patente e já começava a aparecer os primeiros concorrentes querendo colocar a guitarra elétrica no mercado.
Enfim, em 10 de agosto de 1937, foi concedida a patente para Beauchamp, mais pelo desenho único que tinha seu captador, do que pelo invento em si já que nesse momento a invenção dele já era considerada obsoleta por causa da concorrência. Mesmo assim ela continua sendo aplaudida e tendo os méritos de George Beauchamp intactos como o inventor principal daquilo que hoje orgulhosamente vemos nas mãos dos melhores e piores músicos: a guitarra.
(essa história foi traduzida e adaptada dessa página da Rickenbacker)

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