Hendrix e a bizarra turnê com o The Monkees

44 anos atrás, não se sabe o quanto isso é verdade ou não, Jimi Hendrix fez seu último show de abertura para a banda-feita-para-tv The Monkees com um belo dedo médio.

Sim, Hendrix abriu os shows para o The Monkees por sete shows até ficar de saco cheio de gente gritando "Queremos Davyyyyyy!" (palavras de Micky Dolenz, o batera do Monkees) enquanto tocava a poderosa "Purple Haze". "Meu Deus, que embaraçoso", lembrou Dolenz.

A história começa assim. O então empresário de Jimi Hendrix, o "não muito bem quisto por fãs" Michael Jeffrey tentava de todas as maneiras lançar de uma vez por todas seu guitarrista que até aquele momento era mais conhecido na Inglaterra do que nos EUA (um fato curioso é que quando Hendrix lançou o single "Hey Joe", ela nem chegou a constar nas paradas da Billboard).

A primeira chance de emplacar Hendrix na América do Norte veio com a ajuda de Paul McCartney, que convenceu os organizadores do Festival de Monterey a colocá-lo na lista das bandas junto com outro grupo, o The Who. A ajuda servia tanto por causa da grande audiência como pela quantidade de jornalistas que lá estariam. O guitarrista não fez feio e deixou sua marca ao tacar fogo em sua guitarra. Uma das imagens mais marcantes de sua história.

Aqui cabe a parte curiosa. Enquanto os Beatles estavam no estúdio preparando o que seria o "Sgt. Pepper's  Lonely Hearts Club Band" eles armaram uma festa para a vinda dos Monkees na Inglaterra sem dar bola para os críticos que diziam que eles eram apenas uma cópia, um "pré-fab four" deles e hospedaram os garotos. Foi lá, num jantar com Lennon, McCartney e Eric Clapton que Michael Nesmith, Peter Tork e Micky Dolenz ouviram pela primeira vez a fita de Hendrix e de cara viraram fãs do guitarrista. Pouco depois lá estavam os Monkees assistindo a performance do Jimi Hendrix Experience em Monterey e não pensaram duas vezes em pedir para que seu empresário procurasse o grupo para convidá-los a participar de sua turnê americana.

Voltando ao Hendrix. Depois de Monterey, Jimmi tocou no Scene Club (foi lá que conheceu Frank Zappa e o pedal wah-wah), no Fillmore, no parque Golden Gate e no Whisky a Go Go. Finalmente começaria a turnê em conjunto com o Monkees.

Ai começou a coisa.

O primeiro show aconteceu dia 8 de julho em Jacksonville. Notadamente, a maior parte das pessoas que iam ver os Monkees eram adolescentes criadas pela televisão, não eram acostumados a nada fora da "normalidade televisiva" e é claro que a abertura de Jimmi Hendrix - apesar do impacto que a banda devia mostrar - quase ou nada substituía o fanatismo que aquelas pessoas tinham pelo quarteto bonitinho que cantava músicas divertidas e simples.

"Queremos Davyyyyyyyyy!"

Mesmo com a chance de ser cada vez mais reconhecido, aquilo com certeza acabava com os ânimos de Jimi Hendrix. Seria como se ele abrisse para o Menudo ou coisa pior. Um supergrupo que tocava e tinha como fãs do estilo gente calibre de Jeff Beck, Donovan, Lulu, Eric Clapton, Beatles, Mick Jagger, The Small Faces, Pete Townshend, Brian Jones e outros, não havia sentido estar ali tocando para uma plateia, digamos, infantil, gritando "Queremos Davyyyyyyy!"

A turnê durou apenas sete concertos. Cansado de tanto "queremos Monkees", Jimi Hendrix preferiu dar novos passos pessoalmente.

Sabe-se que Hendrix "nada tinha a ver" com a decisão da turnê, tanto é que em entrevista para a Melody Maker meses depois do fim dessa parceria Jimi teria dito: "Deus, eu os odeio! Eu realmente odeio gente assim que faz essas coisas ficarem tão grandes. Você não pode bater em ninguém por isso, mas (tocar) com gente como os Monkees?" Há quem diga que ele sabia que essa turnê ajudaria a aumentar sua popularização quando ela foi oferecida. Tocar para centenas de milhares de jovens consumidores era algo difícil de dizer "não".

De qualquer forma, ambos ganharam suas respectivas notoriedades. "Os Monkees ganharam respeito e Hendrix ganhou publicidade" foi a frase cunhada de forma muito esperta pela New York Times.

Ah, existe ainda um rumor que dizia que Jimi saiu da turnê por ser considerado "erótico demais" pelo grupo feminista de direita DAR (Filhas da Revolução Americana, em português). Uma bobagem que ainda virou mais uma daquelas lendas urbanas.