quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Rock X Escola: o bullying da pedagoga ou preconceito sonoro?

(tempo bonito e gelado) Um camarada mostrou na rede social a matéria do UOL "Menino abandona escola no interior de SP após ser repreendido por gostar de rock pesado".
Na matéria, o carinha que mora a pouco mais de 15 dias em São José do Rio Preto, foi repreendido porque batucava na carteira, imitando gestos de um baterista. Deveria estar empolgado com alguma música que apareceu de súbito na cachola. Acontece sempre comigo.
A professora fica puta e manda ele para a diretoria. A diretora (sim! temos o link) , ao invés de comentar sobre o ruído do batuque que pode tirar a atenção dele e dos outros alunos da sala de aula, foi além e mostrou imagens do capeta e de tudo o que é ruim, dizendo que esse era o tipo de som que ele ouvia e esse era as letras que ele ouve "fazem alusão à besta, ao demônio. Não têm mensagem positiva", ela disse, como se fosse a conhecedora PhD do estilo. 
O menino, ainda de acordo com o repórter, foi para casa e estava apavorado. Tinha visto imagens assustadoras e disse que sua professora contou que "os roqueiros fazem rituais satânicos".
Uma frase da pedagoga: "Ele é agressivo, e isso se deve a esse hábito de ouvir essas músicas que estimulam a violência.” O colégio Ponto Alfa é particular.
A escola humilhou ele, mentiu e podia ter arrasado com uma qualidade que é a de tocar música. Bullying psicológico!
Esse é outro tipo de cousa que acontece há anos. O preconceito sonoro. Para um universo que desconhece uma língua estrangeira, sua mentalidade diminuta "acha" que toda e qualquer banda que fale "hell" ou tenha o diabo na capa é, potencialmente, um perigo para a sociedade porque todos usufruem seu sucesso fazendo ou estimulando o fã a fazer rituais macabros. "O cara está xingando sua mãe e você nem sabe", dizem. Ah, você sabe o que eles falam.
Ele é agressivo porque escuta músicas que estimulam a violência. Então se ele ouvisse rap seria bandido e reggae seria maconheiro? O moleque pode ouvir música evangélica ou "do bem" que não pega nada mesmo se ele assiste Simpsons e joga Carmagedon?
Passei por esse tipo de preconceito assim como várias pessoas que conheço. No meu caso, a escola particular - e de irmãs - me impediram de usar camiseta de banda no colégio. Pior, cabelo comprido? "Quem usa cabelo comprido é mulher. Você é mulherzinha?"
Ainda tive uma pequena demonstração de que lá na escola não havia esse tipo de preconceito. Pra mostrar que você está viajando, sua banda vai tocar no anfiteatro na Festa das Nações. E tocamos, por uns 5 minutos, até o pai de um estudante desligar todo o som da tomada alegando que estávamos possuídos pelo demônio. Imagina aquelas crianças pulando do palco para a pista! Só estando possuído mesmo!
É muito agressivo e pessimista pensar que uma pessoa, que tem internet, google, conversa e lê sobre pessoas e ideias seria alguém com algum tipo de razão para julgar e ser julgado mas, não, a cousa degringola para uma ignorância mais radical, mais centralizada no próprio umbigo e na informação mais barata e cafajeste possível. O pior é sacar que, mesmo sabendo disso, a pessoa adora, sente um tesão histérico, e continua com seu preconceito disfarçado de moralidade. Isso que moralidade é outra besta-fera.
Numa era tão cheia de tecnologias, novidades, conhecimentos e facilidades, ainda há muita gente que vive na era de inquisidores, em séculos passados há tempos, na Idade Média mesmo. Mediana pra cacete.

2 comentários:

  1. Puta merda, isso é tão ridículo que chega a parecer piada! Se eu tbm não tivesse sofrido com esse preconceito pedagógico/docente quando criança, provavelmente não acreditaria. Muito me espanta saber que isso ainda existe. Quando eu era criança isso era normal (inaceitável, mais normal). Mas hoje em dia!

    E ai, essa diretora não vai ser reprendida?

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  2. Enquanto Pedagogo, rockeiro e irmão do blogueiro, não resisti.
    Numa rápida visita ao site da escola temos o seguinte discurso:
    Missão
    Capacitar pessoas para que possam contribuir positivamente para a reconstrução de uma sociedade mais humana e justa. (Vale a pena olhar o resto do institucional).
    Pergunto: Alguém já apresentou a Constituição Federal, o ECA e a LDB para quem quer que seja da referida escola?
    Não estamos falando de um "simples" pré conceito, mas sim de falas que ferem leis estabelecidas, as que citei acima.
    Vou me ater a isso, mas para quem entende um mínimo de educação - não precisa ser formado na área - recomendo ler regimento interno; atrelado ao fato, vira piada.

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