quarta-feira, 29 de junho de 2011

Uma notícia boa, uma lembrança triste e uma história bonita

Sei que muitos já estão sabendo mas eu também sou obrigado a colocar a notícia nesse simplório blógue que tanto sou apegado. 
Tem um negócio dizendo que, em novembro, vem para o Brasil a banda Pearl Jam. Nada está confirmado, mas as especulações parecem fortes, apesar de nenhuma data ou local aparecer nem por aqui nem pelo site da banda. São dois shows que "foram apurados pela Folha".
Para quem estava no Tibete durante pelo menos uns 20 anos sem nenhum tipo de comunicação a não ser com os iaques e a sociedade de lá, Pearl Jam é uma daquelas bandas que pareceram na explosão grunge do início dos anos 90 e é uma das poucas a continuar tocando sem parar como a maioria já fez. Talvez por esse motivo e pelas letras que expressam um certo engajamento social, uma atitude juvenil, uma força na mídia de massas do rock muito parecida com a do U2 - mas bem melhor - eles angariaram milhões de fãs pelo planeta. Tocaram uma vez aqui no Brasil em 2005. Aqui, em São Paulo, se não me engano, rolou no mesmo dia - ou próximo - que o Festival Claro Q É Rock. Claro (sem trocadilho) que fui nesse último meio que chateado pela proximidade de um com o outro. Os ingressos do Pearl acabaram rapidamente enquanto o do Claro (tocou Nação Zumbi, Iggy Pop, Flaming Lips, Sonic Youth, Fantômas, Nine Inch Nails e mais uma cacetada de bandas) tinha de sobra e não teve como ficar na dúvida diante de tanta banda que eu gostava num dia só.
A parte triste é mais uma lembrança de como o fanatismo exacerbado e a empolgação sem limites pode dar em fatalidade, ainda mais com o poder que tem o Perla Jam.
No dia 30 de junho de 2000, no festival dinamarquês Roskilde, o Pearl Jam que fazia a turnê do álbum Binaural. Durante um show lotado de pessoas é normal até o empurra-empurra quanto mais se chega próximo ao palco, mas a tragédia começava a se anunciar. Num certo momento do show deles, algumas pessoas faziam o chamado "crowdsurfing", aquele ato de ser levado por cima da galera. Mas aparece um movimento estranho da segurança que viram algo de errado. A confusão se inicia, a banda para de tocar e em desespero pedem para as pessoas darem espaço. Tarde demais. Nove pessoas morreram e outras dezenas ficaram feridas. Algumas hipóteses apontam que o pessoal que fazia o crowdsurfing, no momento que caia, não conseguiam se levantar vindo a falecer por sufocamento. 
Após o acidente, vistorias e processos foram feitos. Não só as famílias sofreram com a morte (faleceram três dinamarqueses, três suecos, um alemão, um australiano e um holandês), mas a banda e o evento foram tragados pela impotência e o sentimento de culpa por nada poder fazer para que isso nunca tivesse acontecido. No caso da banda, o grupo cancelou outros dois shows e se desfez por um tempo tamanho o choque. Deixaram de tocar "Alive" até o fim da turnê e no próximo disco lançado em 2002, o "Riot Act", uma das músicas, "Love Boat Captain", há a menção da tragédia na frase "lost nine friends we'll never know... 2 years ago today" (perdemos nove amigos que nunca conheceremos... dois anos atrás hoje), que Vedder sempre muda a distância do tempo entre hoje e a tragédia quando tocada. Isso ainda não foi nada.
Apesar dos raríssimos encontros ou palavras via e-mail entre os parentes das vítimas e Eddie Vedder, em 2003, o guitarrista, Stone Grossard, visivelmente ainda abatido pelo acontecimento e querendo acabar com aquele silêncio, resolveu encontrar as famílias e amigos dos meninos que morreram no show e acabou achando cinco delas. A bela e completa história: "Roskilde Ten Years After: A Light in The Darkness" (Roskilde 10 Anos Depois: Uma Luz nas Trevas) pode ser lida (em inglês) nessa página do Pearl Jam.
Na parte de Roskilde, os organizadores repensaram toda a parte de segurança e procedimentos do show para que essa tragédia nunca mais ocorra. Entre as medidas, foi proibido o crowdsurf não só nesse evento como em outros na Europa. Para que a tragédia não seja deixada em vão, foi construído ao lado do Palco Laranja (onde ocorreu a fatalidade) um memorial para as vítimas com uma grande pedra onde está escrito a frase do poeta dinamarquês Morten Sondegaard  "... how fragile we are" (...quão frágeis somos) cercado por nove árvores e outras nove pedras menores.
Em 2010, para comemorar os 40 anos do evento e lembrar aos vivos os 10 anos do dia fatídico, o evento foi oficialmente aberto com a apresentação de um memorial para as vítimas ao lado do Palco Laranja (onde ocorreu a fatalidade) com uma grande pedra onde está escrito a frase do poeta dinamarquês Morten Sondegaard  "... how fragile we are" (...quão frágeis somos) cercado por nove árvores e outras nove pedras menores. Patti Smith teve a honra de fazer uma pequena cerimônia de pré-concerto. As músicas de Mozart foram escolhidas para abrir o tributo e, enquanto seu guitarrista, Lenny Kaye, lia o nome dos nome garotos, ela jogava nove rosas para o público.Hoje o Roskilde é considerado um dos shows mais seguros do mundo e exemplo para outros do mesmo porte ou até menor.

Acho que isso faz com que até aqueles que não pensavam em ir ao show do Pearl Jam mudar de ideia, mas minha intenção foi mesmo fornecer essa passagem que pensei que seria rápida para lembrar o ocorrido, mas vi que isso foi muito além de uma história jornalesca qualquer.

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