O maior prejuízo dado por um filme em todos os tempos

É preciso uma série de erros de marketing, ideias, momentos, escolhas ou um belo dum azar para que um filme dê um flop, um prejuízo e uma armadilha para quem o produz. Não é de se estranhar a dificuldade de se conseguir apoio ou um seguro para qualquer tragédia pré-anunciada.

O que aconteceu com o filme "A Ilha Da Garganta Cortada" (Cutthroat Island - 1995), esse que muito passou por aqui na Sessão da Tarde, foi o harakiri, o último prego do caixão da produtora Carolco.

A Carolco existia desde 76 e tinha entre seus filmes uma série de sucessos que eram geralmente os conhecidos blockbusters: A trilogia Rambo, "Um Rosto Sem Passado" (Johnny Handsome - 89), "O Vingador Do Futuro" (Total Recall - 90), Chaplin (idem - 92), "The Doors" (idem - 91), "Stargate" (idem - 94), "Soldado Universal " (Universal Soldier - 92), "Exterminador Do Futuro 2" (Terminator 2 - Judgement Day - 91), "Instinto Assassino" (Basic Instinct - 92), isso para lembrar os arrasa quarteirões. Tinha tudo e dinheiro no caixa para o próximo filme.

A produção de "A Ilha..." se parece com aqueles filmes catástrofe onde desde seu início parece que dava para sentir que algo ia dar de errado.

O diretor escolhido para o filme foi o finlandês Renny Harlin que já era conhecido pelo trabalho em "A Hora Do Pesadelo 4" (A Nightmare On Elm Street 4 - The Dream Master - 88) e "Duro De Matar 2" (Die Hard 2 - 90) e que já tinha dado lucro para a Carolco com "Risco Total" (Clifhanger - 1993). Foi colocado na sua conta 3 milhões para dirigir "A Ilha..." e já para a escolha do ator principal foi uma tarefa difícil. Keanu Reeves, Liam Neeson, Jeff Bridges, Ralph Fiennes, Charlie Sheen, Michael Keaton ou Michael Douglas pra fazer par com Geena Davis? Matthew Modine, claro!

O diretor de fotografia foi substituído às pressas depois de ter quebrado o tornozelo no set. Perdeu esse emprego e um outro.

Depois de uma briga no bar e de tanto encher Geena, o ator Oliver Reed foi trocado por George Murcell.

Aliás, esse foi o último filme de George Murcell. Ele faleceu pouco antes do lançamento do filme.

Renny Harlin, que era casado Geena Davis desde 93, conseguiu colocá-la no papel principal tirando ela dos papéis água com açúcar para os de ação. Deu certo e por isso Oliver Reed também perdeu o emprego.

Mas a galera pegou pesado com o diretor que mandou embora o operador de câmera chefe. Como solidariedade ao operador, mais de duas dúzias de membros do filme pediram demissão.

E então o filme é lançado oficialmente em 22 de dezembro de 1995 com pouca propaganda e estratégia de marketing pífia, talvez porque a Carolco não tinha mais grana já que injetara a soma de 115 milhões de dólares na produção.

De forma impressionante, se não trágica, "A Ilha Da Garganta Cortada" foi um desastre de bilheterias arrecadando apenas 10 milhões de dólares. 105 milhões jogado na janela, a destruição da Carolco, perdeu em 96 o prêmio Razzie de pior diretor do ano para o Paul Verhoeven pelo filme "Showgirls" (inacreditávelmente, uma produção da Carolco) e uma entrada para o Guinness como o filme que mais deu prejuízo para uma empresa em toda a história do entretenimento. Se fosse na China, centenas já teriam pulado das janelas da Carolco.

Depois da bomba, a empresa foi vendida por 50 milhões para a 20th Century Fox; os donos da Carolco, Andrew G. Vajna e Mario Kassar se juntaram em 2002 para refazer a Carolco, agora com o nome de C2 Pictures; Renny Harlin continua na ativa com filmes medianos - fez "Exorcista - O Início" (Exorcist - The Beggining - 04) - e competiu mais duas vezes pelo prêmio Razzie de Pior Diretor, sem vencer; Geena Davis se separou de Renny Harlin em 98 e faz sucesso com a série "Commander In Chief" ganhando um Golden Globe e disputando outros.