quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Histórias do Underground: Klaus Nomi

"Klaus era um rosto - elfo pintado como um robô Kabuki. Ele era um estilo - de uma interpretação medieval do século 21 via Berlim 1929. Ele era uma voz, quase não-humana no seu alcance, de um operático soprano a um general Prussiano. Ele foi um mestre da performance - um mestre dos gestos teatrais. Acima de tudo ele era um visionário. Ele dizia que o futuro baseava-se nas necessidades do artista, decidindo como viver e vivendo desse jeito a cada minuto. Klaus, o homem vindo do futuro, vivendo desse jeito no presente e segurando sua mão dizendo: 'Venha comigo. Você pode fazer isso também'."
"Sua visão era ingênua, pitoresca, quase tola, mas contundente na sua pureza e inocência. Mesmo quando parecia. Mesmo no seu descontrolado ridículo ("Lightning Strikes") ou no tremulante sublime (Purcell, "Death"), houve um reconhecimento do iminente apocalipse que lhe emprestou tal convicção. Para Klaus, apocalipse era a metáfora para a purificação, e como um excêntrico otimista cercado por um cínico desprendimento e resignação, ele se atreveu a acreditar num mundo melhor." - Kristian Hoffman
Este é uma das frases pintadas para dizer quem era Klaus Nomi. Uma figura que fez parte da cena do East Village de Manhattan, Nova Yorque no tempo da explosão da contra cultura anos 70-80. Mesmo assim, Klaus fazia parte do "underground do underground", apesar de seus shows teatrais que chamavam a atenção pela sua dramatização, pela roupagem pop para óperas alemãs e roupagem operesca para músicas pop.
Saindo da Alemanha para aportar na explosiva Nova Yorque do início dos anos 70 aos 28 anos, Klaus Sperber - seu verdadeiro nome - já aparecia com seus experimentos vocais e trajes inusitados. As árias, seus modismos e a presença de palco já enchiam casas de espetáculos com seu show, o "New Wave Vaudeville" em que aparecia com roupa de astronauta, cantava uma música da peça Sansão e Dalila e terminava com seu desaparecimento entre explosões, fogos e fumaça. Era o início.
Aos poucos as apresentações apareciam nas casas mais visitadas. Mudd Club, Club 57, Pyramid Club eram algumas delas. Num dia de 1979, David Bowie viu sua apresentação e convidou Klaus Nomi e Joey Arias para se apresentarem junto com ele no programa Saturday Night Live. Destruição! Uma das apresentações mais inusitadas de Bowie nas músicas "TVC 15", "The Man Who Sold The World" e "Boys Keep Swinging". Klaus ficou impressionado não com a expectativa - muito positiva - do evento , mas com a roupa usada por Bowie em "The Man..." que ele acabou por produzir uma parecida mas com sua marca que ficaria registrada para sempre.
Em 1980 ele participa de "Urgh! A Music War". Em 1981 sai seu primeiro disco homônimo. A carreira parece deslanchar mas a história nem sempre tem um final feliz.
Em 1983, foi diagnosticado com sarcoma de Kaposi. A doença era ainda rara e aos poucos seu corpo foi entrando em colapso. Klaus foi uma das primeiras pessoas a morrer de AIDS em 6 de agosto. Tinha 39 anos.
Aos poucos a internet e as imagens de Klaus vão aumentando seu significado. A primeira impressão, a de ser um fantoche abobalhado vai se transformando num profissional que quebrou tabus musicais e preconceitos. Em 2004, foi lançado "The Nomi Song", documentário escrito e dirigido por Andrew Horn que traça a vida de Klaus.
Em 2008 é lançado "Za Bakdaz" com boa parte das músicas nunca tocadas antes. É considerada a ópera não-finalizada por Nomi.
Sua forma vai ganhando novos desenhos, seu estilo ganha novos adeptos depois de mais de 20 anos. O mundo aos poucos começa a deixar seu espaço na história garantido.
Abaixo, a apresentação de Klaus Nomi em Urgh! A Music War e a roupa que ele se espelhou em Bowie.

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