segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Paul

(chovendo, acredita?) E domingo foi o primeiro dia de Paul (não o polvo) em Sumpa.
Filas intermináveis, gente de todas as idades num mesmo lugar, calor, o local tomado pela multidão e eu sei de tudo isso porque sou macaco velho desses tipos de shows. Já passei por todos os tipos de presepadas para entrar num evento e, nesse dia, no Morumbi, fui testemunha ocular de dentro de meu quarto, deitado e vendo na TV o VT da Globo de sir Paul McCartney.
Como estava munido de uma série de papéis de jornais especiais do dia, que ficarão perdidos em algum lugar do meu entupido armário, achei que isso daria uma ideia interessante de como foi o show visto por aqueles que tinham como única forma de assistir o show apenas o conforto da casa. Nada de filas, nada de suor, de gritaria, de choradeira, nada de pura emoção. Nada de nada na verdade.
Então vamos lá. No especial da Folha, Ivan Finotti nos deliciou com o set list do show feito em Porto Alegre. Os detalhes, a sequência musical, os trejeitos de Paul, a postura e a forma de agradecimento que vai a todos que fizeram o show acontecer (técnicos da mesa de som, de luz, do telão, a banda e o público, apontando o dedo para todo o lado do estádio com seu "you" o obrigado especial), tudo de acordo. O uso de teleprompter (a máquina que libera textos para serem lidos) para falar em português, tudo, tudo igual e em qualquer lugar do mundo, possivelmente, 90% do que acontece é exatamente o que vimos. Show padrão de quase três horas. Um pusta tempo.
Mas como disse, a Globo passou um VT, o show editado. Das quase 40 músicas tocadas, deu para ver, além de comercial, um Zeca Camargo agitado como um monge com dor de estômago tentando ser gente boa e animado e exatamente 15 músicas. Mas como foi fake a apresentação de bloco do Zeca. Tosco, tosco.
E, novamente com a ajuda da planilha completassa do Finotti, deu para acompanhar a linha do show de Paul (não o maldito polvo, pô!).
Bom lembrar que a banda de Paul, claro, só tem músicos de primeira que merecem ser lembrados. O guitarrista principal, Rusty Anderson tocou com Elton John, Santana e Joe Cocker; o outro que toca guitarra e baixo, Brian Ray, já deu as caras com Keith Richards e Peter Frampton; Abe Laboriel Jr. o baterista e dançarino da turma já surrou sua baqueta para Stevie Vai, Eric Clapton, BB King além de ser filho do renomado baixista Abraham Laboriel que gravou com Chick Corea, Chaka Khan, Ray Charles, Gilberto Gil, Miles Davis, Michael Jackson e vários. Também estava junto o mais antigo companheiro de McCartney e, talvez, o único que estava na segunda vez que o Beatle veio para cá (essa é a terceira), o multiinstrumentista Paul "Wix" Wickens (David Gilmour, The Damned e Styx).
Iniciou com a sequência "Venus And Mars/Rock Show". E como é fantástico esse esquema de superbanda, não? Telões de última geração do tamanho do céu, som com qualidade de orquestra sinfônica, fogos, imagens antigas intercaladas com novas e efeitos digitais. Batata. AC/DC, Metallica, Elton John, Guns, Madonna também adotam essa fórmula de sucesso e raro não aparecer alguém para dizer que foi o melhor show de sua vida.
A sequência é a poderosa "Jet". Que começo de show! Dá para imaginar a felicidade das pessoas que lá estavam, ainda mais quando entra a canção seguinte, "All My Loving". Música do primeiro disco dos Beatles e perfeita para matar os "velhinhos" da plateia.
Agora, um pulo na sequência Finattiana. Aparece McCartney perto do piano e, antes de fazer um comentário todo o estádio canta "Give Peace A Chance", de John Lennon. Perfeito, vocês que foram estão de parabéns pela atitude e Paul também se ligou e disse mais ou menos "Oh, isso é muito bonito. Todos precisamos dar uma chance à paz". Emenda com a frase padrão em todos os shows que a próxima canção foi feita "para minha gatchinha Linda e diz que é para todos os namorados". Toca a bela "My Love".
Uma volta ao passado: a última vez que veio para o Brasil também foi televisionado e, como domingo, choveu. Aparece a imagem de Paul ainda no hotel arrastando por uma corda um patinho de borracha. Não era isso que eu queria falar. Acredito que na mesma música, Paul dedica a música para "minha gatchinha Linda", mas dessa vez apontando para a lourinha atrás dos teclados. A própria.
Pusta evento. Tenho certeza que qualquer um que viu o show acredita que Paul tocou de forma única no Brasil. Não, esse é Paul e é assim que ele toca/canta em qualquer lugar do mundo. Desculpem-me pela revelação dolorosa para aqueles que achavam que só faltava ele morar aqui.
Outro pulo: "Blackbird", que faz parte do "White Album", de 1969, depois um outro pulo para chegar na estupidamente bacana "Band On The Run" e para a chatinha mas bacaninha para cantar com as crianças "Ob-La-Di, Ob-La-Da".
Chegamos quase no final do show. Paul no piano e começa "Let It Be". Arrepia, não? Pra arrepiar mais chega a música eternizada no filme de James Bond "Live And Let Die" com luzes, fogos de artifício e explosões. Chegando o fim? Com Paul? Nada disso e , agora "Hey"... ué? Cortaram?? Não pode ser que a Globo tenha cortado a música que ganha o maior coro de lalalá do mundo. Nós, infelizes que não estamos lá, não vimos isso e sofreremos dias a fio.
Na verdade, a Globo não mostrou porque Paul tomou um belo chão e fiquei sabendo que, mesmo depois de a banda sair do palco, o coro continuou sem parar. Mais arrepios nos braços e sorrisos nas bocas. Uma pena.
No primeiro bis, ainda de acordo com o set list do Finotti, rola "Day Tripper", "Lady Madonna" e "Get Back". A última tocou no VT. Fim do bis, mas no show dele, um bis é pouco.
O segundo bis vem completo. A banda volta, Paul diz que o pessoal precisa dormir "e vocês também" e faz todo mundo chorar novamente com "Yesterday". Na continuação vem a monstra "Helter Skelter", "Sargent Peppers Lonely Hearts Club Band" e ahhhhhhhhhhh "The End".
Acaba o show de domingo. Ainda teve na segunda chuvosa um outro gig e a diferença é a abertura com "Magical Mistery Tour" e outras quatro músicas trocadas. Acabou. Hora de sair do estádio. Gente emocionada, chorando, abraçando, sorrindo, berrando palavras de felicidade ou alguma música. Pegar trânsito da saída, ônibus que demora pra chegar, alguns terão frio e fome mas todos terão uma ótima lembrança para contar no futuro ou no dia seguinte mesmo.

Um comentário:

  1. Você é uma desgraça, sabia?!? Foi mais emocionante ler o post do que assitir ao show e descobrir que Band on the run era música que eu, atentamente, esparava o locutor dizer "quem era o cantô"...

    Mas o mais sensacional foi "Não era isso que eu queria falar".

    Ah! Sem contar que eu não sabia que o baterista era filho do baixistas Abraham Laboriel! Curto muito ele, que até onde eu sabia fazia parte do zuppa grupo gospel de Ron Kenoly.

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