segunda-feira, 19 de julho de 2010

Sobre ingressos e guarda-chuvas

(bastante nuvem, dia agradável) Sábado foi dia de compras caras. Não adianta, gosto de show ao vivo do mais simples, naquele que todo mundo ajuda a colocar e tirar o equipamento da banda no palco ao monstruoso com luzes, telões, pirotecnia e cerveja quente.
Desde meus primeiros shows, de quando tinha meus 14, 15 anos, sinto a mesma cousa de sempre: apreensão e um certo pré-masoquismo pois sei que no dia seguinte estarei cansado, com dores, hematomas, sujo mas com uma vontade doida de contar para todos como foi o evento.
Nunca pensei em quando ou como comprava os ingressos. Consultando o cérebro, lembrei de alguns poucos. Geralmente já me recordo de dentro da arena. Dessa vez foi diferente.
Saí do serviço às 13:00. Preparei meu itinerário: sairia do Morumbi direto ao Ginásio do Ibirapuera para comprar o ingresso o SWU e, de lá, para a Barão de Itapetininga buscar um outro ingresso para o Fishbone. Antes, me certifiquei do horário que iriam ficar abertos, preços e endereço. Tudo certo, tudo de coletivo.
Primeira apreensão: "ok, estamos chegando ao Ginásio, onde é o guichê?" Não precisei andar muito e vi aqueles negócio parecidos com contêineres ou aquelas escolinhas de lata reduzidas cheios de adereços lembrando o tal SWU. Conversando com o cara que me vendia o ingresso de "preço promocional" a 190 dinheiros reparei numa mocinha que reclamava também do preço, mas comprava com aquelas carteirinhas de estudante por 95 xilins. Fico pensando como me chateia pagar o dobro do preço. Penso que sempre tenho dois ingressos que vale por um e não é divisível.
Ingresso na mão (nº 01893), atravesso a rua para a Brigadeiro Luís Antônio e me deparo com um guarda-chuva jogado no chão. Vou até a Avenida Brasil esperar o busão que vai me largar no centro.
Apesar de ser uma área esquecida de Sumpaulo, o centro é um lugar bonito. Porco, estranho para quem está sozinho e cinza, a situação me fez blasfemar contra tais mazelas que acabam com o charme de um local que nunca vi charmoso mas sei que um dia o foi. "Maldito lugar, odeio esse canto, aqui fede a urina, cuspo no seu chão imundo e no seu povo que teima em piorar seu estado quase terminal. Não choro por vocês, cretinos." Termino como a frase do filme de Spike Lee, "O Verão de Sam" (Summer of Sam - 1999), mas adaptada para nosso país: "São Paulo: a cidade que amo e odeio."
Depois desse desabafo, chego ao meu último canto no início da Barão, próximo ao antigo prédio do Mappin que é a mesma loja mas com outro nome. Entro, peço o ingresso e percebo que ninguém nem sabe direito do quê ou de quem se trata. É uma loja de apetrechos surfwear. Não quis saber da galeria pois me dá nos nervos ver um monte de discos que gostaria de ter e, se eu fosse para lá, pararia para beber umas e não sairia tão cedo, o que daria mais despesa e, ademais, tinha visita em casa.
Um rapaz que trabalha nessa loja ficou curioso e, gentilmente, me perguntou sobre o show, como era o som, onde ficava a casa, essas cousas. Gentilmente eu respondia. Depois de um tempinho eu peguei o ingresso (nº 0601) e fui embora sem antes um outro cara, talvez o gerente, me agradecer pela compra. Fiz um sinal de "por nada" mesmo sem entender lhufas. É apenas um ingresso.
Cheguei em casa, guardei os ingressos e fui ver a foto do triste guarda-chuva que me tocou com sua forma de que enquanto valia a pena, protegia alguma cabeça até ser descartado, como qualquer coisa de hoje, até vidas.

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