terça-feira, 28 de abril de 2009

Eis um disco!

Disco de hoje e em posição honrosa na lembrança deste desmiolado é Chaos A.D.


Mas pra falar dele, preciso voltar um pouco no tempo. Pouca coisa. Nem dá pra perceber direito.


No início dos anos 90, o Sepultura já era uma puta banda de reconhecimento mundial. O sucesso vinha desde “Beneath the Remains”(89) e estourava forte com “Arise”(91). A rádio, a antiga 89Rock era outra coisa, aliás, tudo era diferente e tocavam sem parar o Sepultura dando brecha para outras bandas que, se não fossem eles, não chegariam nem perto do estúdio como Okotô, Genocídio, Yo Ho Delic, De Falla entre várias.


Depois de muito tempo em turnês fora do Brasil, resolveram fazer, em 91 um show do lado de fora do Pacaembu. Imaginem um show do Sepultura de GRAÇA e na praça Charles Müller! Claro que, infelizmente, deu bosta e uma pessoa foi baleada. Baleada ficou também a repercussão do Sepultura com a mídia e empresários brasileiros.


Mas eis que chega 93 e um novo álbum chamado “Chaos A.D.”, gravado novamente pelo mago Andy Wallace. 12 novas músicas mais a cover “Polícia”, dos Titãs, apenas para o disco brasileiro.


Um puta estardalhaço! Uma coisa absurda! Que disco era aquele, meu Deus! Morri?


Foi gigantemente propagandeado. Havia (não sei se há ainda) a loja Woodstock que ficava na Dr. Falcão, do lado do Anhangabaú, que rolava bons shows do lado de fora, e estávamos naquela estranha transição do LP para o CD. Tanto é que meses antes a própria Woodstock lançou na rádio que todos os seus discos seriam vendidos por um real. Se vocês acham que aquelas imagens, quando uma loja abre para queima de estoque, impressionam, imaginem uma cheia de cabeludos, de roupa preta e coturnos se matando para pegar alguma coisa boa (eu consegui um triplo ao vivo do Iron, o “Live at Donnington 92” por três reais quase que no tapa!)? É altamente surreal. Contando parece mentira mas não é.


Pois é. O único disco que era vendido por um preço normal , na verdade, a única bolacha (LP, seus inguinoramtes!) era o Chaos.


Não havia loja na galeria que não tivesse o disco. Vendia de baciada. Era raro alguém não ter e, se não tivesse, já tinha escutado bem e tinha uma fitinha cassete gravada.


O primeiro clipe, “Refuse/Resist”, já mostrava a fúria em estado monstro e a grande mensagem sobre a marcha em Seul que acabou com as tristes cenas na praça Tiananmen (praça da Paz Celestial). Música de protesto, algo para a molecada pensar e aprender – mesmo que em inglês que, no fim fazia indiretamente a gente estudar uma nova língua – sempre foi o forte e a preocupação do Sepultura conhecedores do poder que tinham e que ultrapassava a barreira das guitarras e a voz de Max Cavallera, principalmente nesse disco.


Pouco depois, um novo clipe: “Territory”, este sobre a eterna rivalidade Israel/Palestina e “Slave New World” feita em parceria com o baixista do Biohazard, Evan Seinfeld contra a censura.


Mais protestos? Que tal “Amen” sobre David Koresh e seu Ramo Davidiano e o suicídio em massa de seus súditos em Waco, Texas (Apesar de, anos depois, ideias apareceram mostrando que o negócio foi mais esquisito)? Ou “Manifest” e seus 111 mortos no Carandirú; “Kaiowas”, em honra da tribo que também fez um suicídio coletivo contra o governo que os tirou das terras de seus ancestrais; “Nomad”, comentando sobre os moradores expulsos de suas casas para dar lugar ao novo, a modernidade muitas vezes apenas visual.


O mundo ouvia o que esses brasileiros falavam. Faltava mais alguma coisa?


Faltava. Lembram que falei do show de graça na frente do Pacaembu? Então.


Os fãs não podiam esperar a volta do Sepultura mais. Quando haveria a chance de ouvir ao vivo Chaos? Foi aí que em 94 aconteceu o Hollywood Rock com a presença de Aerosmith, Robert Plant, Ugly Kid Joe, Live e mais um monte de porcarias. O público pedia Sepultura mas os empresários ficaram receosos de colocar eles no palco. Não deu outra. Foi feito um enorme abaixo assinado organizado pelo Toninho, do fã clube oficial da banda. Apareceu até televisão para gravar o momento e, enfim, os engomadinhos caretas (caretas? Eu falei caretas?) cederam aos fãs.


Eu estava nesse show. É até hoje disparado o melhor show de toda a minha vidinha besta. Lembro de num certo momento, depois de pular, ser jogado para cima e fazer parte de uma pirâmide humana (magro dá nisso), subir num alambrado no meio do show deles e ver a maior roda de pogo que já vi. A emoção foi tão grande que bateu forte no peito. Eu sabia que estava diante de um puta show!


Aliás, foi nesse show que jogaram no palco uma bandeira do Brasil com o símbolo do Sepultura e, sem querer, Max pisou nela. A banda foi presa por desacato ao símbolo nacional e quase não fizeram o show no Rio, que rolou na semana seguinte e gravado pela Rede Globo ao vivo.


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