segunda-feira, 15 de julho de 2013

Carta aberta para Redson

Imagem: Márcio Sno
Pois é cara. Hoje seria seu aniversário de 51 anos.
Tenho certeza absoluta que iríamos todos tirar um sarro dessa data. 
Lembro como se fosse ontem do dia que conversamos pela primeira vez. Vocês fizeram a abertura do show do Shelter em Santos. Isso coisa de 1996. Ficamos jogando latinhas no palco deles e falando mal. Coisa de adolescentes e bebuns. Conversamos sobre fazer um show no interior, em Itapetininga. Você me passou o telefone e foi a primeira vez que vi um número de oito dígitos. Se não me engano era o 5518 7818.
Depois de tudo pronto e sua chegada para fazer a passagem de som, olhou pra mim que tinha acabado de chegar e disse: "Olha. Não vamos fazer o show. Está cancelado." 
Claro, era uma brincadeira como outras que você faria no passar de nossa amizade.
No fim desse show, ficamos eu, você e mais duas ou três pessoas até as quatro da manhã aguentando as piadas que não tinham fim.

Você e o Pierre ficaram ainda mais um dia na cidade falando bobagens. Tenho uma foto antológica: você limpando o sapato depois de ter pisado numa enorme, mole fedida merda de cachorro!
Seu irmão e o inseparável John Player Special, fumando, de jaqueta e sem camisa. Que figura!

Ainda peguei uma entrevista com você lá em Capão Redondo e ainda inédita. Estava o Ariel, do Invasores de Cérebros também. Nem imagino onde estaria essa fita, que merda.
Depois de um tempo, outra vez nos trombamos e, como sempre, para agendar um show da sua banda.

Tocou vocês, Makula, Raaaict Tuff, Vórtex numa praça chamada Mário Bulcão. Vocês tinham um tempo de uma hora e meia para tocar e, quando chegou o tempo para parar, quem disse que você deu ouvidos? Tocou por quase mais de uma hora para desespero meu e da dona do equipamento que estava puta da vida com aquilo. Eu via o Pompeu na mesa dando risada da situação e, no fim, o Gabriel Mailo reclamando que não havia luz no camarim. Lógico! Era para a banda parar de tocar antes do pôr do sol!!!
Mas foi um dia fantástico!


Dessa vez a amizade ia perdurar. Era comum ir na sua casa e falar das coisas, de música, de vida e onde iria chegar a banda. Algumas boas festas rolaram lá com todo aquele pessoal de sempre Ariel, Pierre, Hércules, Cuga, Gepeto e outras figuras - da cena ou não - que lá iam te visitar.
Quase fizemos um show pra comemorar os 25 nos do Punk no Brasil hein? Esse sabíamos que ia dar o que falar. Local enorme, espaço para grafite, zine, skate e as melhores bandas de todas as safras desde o início até o dia de então. Que sonho seria aquilo. Pena não ter dado certo e faltava tão pouquinho pra concretizar...

Tenho certeza de que quem cuida das suas coisas tem uma cópia do documento que fizemos.

E quando você veio a um almoço na casa do grande Hércules? Você trouxe o "Deixe a Terra em Paz" que tinha acabado de sair e ainda era inédito. Ouvimos o três todas as músicas e ficamos... cara! Que pôrra é essa!! Que disco, cara!!
Acho que o ouvi durante meses sem parar!
Fiz merda. Dei o disco para um amigo colecionador nervoso do punk rock mas acho que ele está mais bem cuidado do que se ficasse comigo.

Depois foi o lançamento do clipe homônimo no Hangar 110 e depois, a premiere de "Viaduto", que não foi muito bem aceito por você. Faltou força. Acontece.
Lembro de um dia conversando com você sobre se sabia que tinha pessoas que meio que o endeusava e o que você achava disso. Você sabia disso mas dizia que, indiferente de acharem você uma coisa ou outra, continuaria a tratar as pessoas da mesma forma. Sempre que alguém te reconhecia, você parava. Mesmo se estivesse com pressa e, quando o tempo apertava, pedia desculpas por não poder ficar conversando e dizia o que estava acontecendo sem nem precisar de fazer isso.
Um dia me ligou pedindo uma ajuda. "Seguinte Alê, você me dá uma ajuda pra colar uns cartazes de nosso show pela cidade?" "Claro, cara. Quando?" "Hoje! Te encontro em tal lugar." Disse que me daria uns R$15,00 e nunca me passou. Safado mão de vaca!

Ir para a Galeria do Rock com o velho Monza ou, mais tarde com o Palio Weekend, parando em lugares chave para não pagar nada era uma guerra, mas sempre tinha um lugar certo: lá próximo da Santa Cecília.
Aproveitava ainda para cortar o cabelo no centro por R$2,00! Puta cara mão de vaca! "Guardo tudo que tenho para a banda. Ela é o que tenho, meu trabalho", dizia.

Nos vimos por ainda mais um tempo lá na sua casa próximo da Lins de Vasconcelos. Até que comecei a fazer faculdade e fiquei com o tempo curto.

O tempo foi passando. Eu querendo te ver. Sabe, saudades das conversas.
A última vez que te vi foi na Virada Cultural em 2007. Queria uma entrevista para um trabalho que fizemos mas como você estava muito ocupado e nós também, acabamos fazendo com o Pierre, que foi fantástico.


Um dia, num domingo, estava com uma namorada e ela sentou no banco do ônibus ao lado de um carinha que não reconheci de primeira até que ele perguntou: "Você não é o Alexandre?" Cara, era o Wendel!
Sabia que o Wendel era conhecido do Hércules antes de te conhecer, né? Os filhos do Hércules!!
Ele pensou muito em passar seu número e eu: "Qual é, cara! Sou conhecido do cara antes de você! Acha que vou fazer alguma cagada com esse número?" Ele me passou e combinamos de um dia tomar umas cervejas.


Foi a última vez que me aproximei de falar seu nome.
Um dia, na USP, liga o Hércules: "Cara. O Redson faleceu."
Foi um choque brutal. Liguei para o Wendel que não me reconheceu de primeira mas lembro dele me dizer "Sim cara. Lembro do Redson falando de você."
Chorei.

No seu enterro eu não sabia o que fazer, aliás, quem sabia? Fui até próximo da porta onde você estava sendo velado. Lá estavam todas as pessoas importantes e fãs inconsoláveis. Edgard Scandurra, Ariel, Gabriel, Clemente, Caio Uehbe, a galera do Os Stebas, tanta gente.
Não quis entrar mas seu pai disse: "Pode chegar mais perto."
Cheguei. Vi que na sua mão estava sua palheta. Foi forte demais. Me aproximei e sussurrei próximo de você "Seu safado! Me deve 15 Reais!"
Vi seu irmão e perguntei em prantos "E agora?". Ele sorriu, me abraçou e disse "Relaxa."

Foi um dia triste. Todos cantando suas músicas. Ouvi uma delas numa versão tão triste que nem lembro qual era. 
Uma grande perda para mim e para muitos outros mas quem mais sofreu foi sim a música, mas ela é imortal e estará para sempre nos corações e nas gargantas e a internet ajuda.

Fiquei surpreso da banda continuar com o Wendel nos vocais. Que coragem substituir o insubstituível mas soube que estão recebendo bem a nova versão. Não vi ainda, mas terei em breve a oportunidade e, quando chegar esse dia, abraçarei essas figuras corajosas: Wendel, Val, Anselmo e o meu grande amigo Pierre.

Bem, você está em algum lugar, talvez na mente e nos corações de tantas gerações então termino essas palavras deixando o clipe de uma banda que você sempre gostou e tocou como meu singelo parabéns.
Agora descanse. Não te atrapalharei mais. Os sorrisos e as piadas ficarão para sempre e até onde eu puder levar. Forte E Grande É Você meu amigo Edson Lopes Pozzi!!


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