quarta-feira, 5 de outubro de 2011

A careca e o Papa

Sinéad O'Connor começava a deslanchar nas paradas. Seu primeiro disco, "The Lion and the Cobra" (87) vendeu cousa de 2.5 milhões de álbuns mundo afora e estava ganhando muito mais com seu segundo e mais conhecido disco, o "I do Not Want What I Haven't Got", de 1990 que vendeu 7 milhões de cópias com a regravação da música de Prince, "Nothing Compares 2 You", como carro chefe.
A menina tinha sangue quente e atitudes no mínimo excêntricas. Depois de ver seu disco concorrendo em quatro categorias do Grammy em 1991 e vencendo o de Melhor Álbum de Música Alternativa. Se recusou a aceitar o gramofone símbolo do prêmio. Nada demais. Marlon Brando fez a mesma cousa e ainda colocou uma índia para discursar no Oscar.
Mas, convidada para tocar no programa humorístico, Saturday Night Live, ela faria história para o bem ou para o mal. Isso em 3 de outubro de 1992.
O que era para ser uma simples capela de "War", do jamaicano Bob Marley, se transformou num protesto contra a cegueira da igreja romana contra os abusos infantis promovidas e até hoje anunciadas dentro de suas colunas. No final da música, falando "lute contra o real inimigo" e trocando as frases da música "racismo", por "abuso infantil", ela saca uma foto do então papa João Paulo II e pica ela em pedaços, joga-as de frente para a câmera e ao invés de palmas ou urros, a plateia fica em silêncio, sem saber como agir naquele momento.
Nos bastidores, conta-se que ela não estava com aquela foto nos ensaios.
Nem tudo dá certo...
O público achincalhou, os barões da TV entraram em pânico, atores e artistas repreenderam a atitude solitária e, por que não, corajosa da jovem cantora que chegou a ser sonoramente vaiada algumas semanas depois quando tentava cantar uma música no show de 30 anos de carreira de Bob Dylan.
Não pense que ela parou. O mundo a destruiu no ramo do entretenimento televisivo, mas suas expressões estão aí. Seus discos continuam saindo (Está saindo o nono álbum dela para 2012 com o nome provisório de "Home").
Ela atacou o que considera errado e recebeu uma negativa por esse assunto ser de uma delicadeza que ultrapassa a razão. Dane-se. Foi corajosa em expor seus sentimentos diante disso. Marcou a história.

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